Shiva (o benévolo) é conhecido como “senhor do tríplice tempo” (passado, presente e futuro) e sua personalidade apresenta-se extraordinariamente rica em contrastes. Ele é um ser devorador como Kala (o Tempo), mas também misericordioso em todas as suas ações (Shankar), sendo cultuado em todos os lugares como um princípio universal de destruição com o intuito de renovação. (SARASWATI, 2006:148)
Na tradição hindu, Shiva é o destruidor; fazendo parte da Trindade Hindu, onde Brahma é o criador e Vishnu o preservador. Na verdade Shiva destrói para construir algo novo, assim, poderíamos chamá-lo de "renovador" ou "transformador". Suas primeiras representações surgiram no neolítico (4.000 a.C.), Idade do Bronze, na forma de Pashupati, o Senhor dos Animais; cultuado entre os dravidas, sendo o mais antigo Deus hindu. Shiva é o Deus supremo (Mahadeva), o pacífico (Shankara) e o benevolente, onde reside toda a alegria (Shambo ou Shambhu). Também possui o Lingam, símbolo do órgão sexual masculino, ligado a representação da fertilidade, e ao culto dos mortos na região central da Índia; ao seu lado encontramos sempre o símbolo do órgão sexual feminino, o Yoni; nesta representação vemos o que existe em diversos povos, a união dos opostos que dão o equilíbrio.
Na Índia a dança está associada a vida; a criação e a destruição são uma dinâmica universal, simbolizada por Shiva Nataraja, dentro de um círculo de fogo; nele o universo se interage e se cria, dando vida e movimento a tudo que existe, atingindo a verdade através de sua dança, que segundo Saraswati (2006) somam-se 108. “O significado mais profundo da dança de Shiva é sentido quando se compreende que ela acontece dentro de nós” (COOMARASWAMY apud RIBEIRO, 1999:9).
As cinco atividades de Shiva (que são as atividades divinas): a criação (srishti), a manutenção/preservação (sthiti), a destruição (laya ou samhara), a reencarnação (tirobhava) e a salvação (anugraha) são chamadas de panchakria (penta-atividade de Shiva).
Segundo Coomaraswami (1978) citado por Saraswati (2006:150),
(...) a dança de Shiva tem significado tríplice. Em primeiro lugar, ela representaria o jogo rítmico como fonte de todo o dinamismo existente no cosmo. Em segundo, a finalidade da dança seria libertar os seres das armadilhas de Maya, a ilusão e ignorância. Em terceiro, indicaria que o local da dança é Chindambaram, o centro do universo, que se encontra no coração.
Segundo Romano (2005 [não publicado]), a história de origem do Nataraja é atribuída à Deusa Parvati, filha do Himalayas, em sua forma da Deusa Kali em uma competição de dança no Templo de Chidambaram em Natyamandapa. Estavam envolvidos, também, todos os outros seres divinos: Saraswati que tocava sua Veena, Indra tocava a flauta, Brahma tocava os címbalos, Vishnu tocava o Mrdungam, enquanto Lakshmi cantava; Vishnu fazia o papel de juiz da competição. Os Deuses, semi-deuses, apsaras, yakshas, gandharvas, todos testemunhavam a dança celestial.
Tudo levava a crer que Kali venceria, pois estava dançando muito bem, mas Shiva com medo de perder, teve uma idéia para derrotá-la e a colocou em ação: deixou seu brinco cair no chão, e pegou o brinco do chão usando seu próprio pé, e levantou sua perna para colocá-lo na orelha. Kali não podia fazer este tipo de movimento porque era inadequado à uma mulher, portanto, perdeu a competição.
Segundo Sarabhai (2007) Parvati foi a primeira professora que ensinou dança às pessoas na terra. E que Bharatha teria pedido ajuda a Shiva para os primeiros passos de dança.
Outra versão de sua origem, de acordo com os Puranas, diz que os rishis questionaram a relevância de Deus, questionando que apenas a ação tinha importância já que o Karma era tudo. Para remover a ignorância, Shiva tomou a forma de Sundaramoorthy e foi até a vila, encantando todas as mulheres que o seguiram. Os rishis enganados, ficaram enfurecidos e tomados como tolos conduziram uma cerimônia védica para destruir Shiva. Primeiramente do fogo veio o demônio Muyalagan dando inicio à dança cósmica. Shiva prendeu o demônio Muyalagan sob seu pé e as cobras que vieram do fogo se tornaram à guirlanda de Shiva. Um veado de grandes chifres se tornou pequeno e foi segurado em uma das mãos. A pele de um tigre foi retirada e usada como sua própria roupa enrolada na cintura enquanto com a outra mão capturou o fogo. O som do mantra se tornou suas tornozeleiras e então a forma de Shiva Nataraja se manifestou; segundo Romano (não publicado).
Segundo Gaston (1996), Rukmini Devi foi a primeira a colocar na sala de aula uma estátua de Shiva Nataraja; mas para algumas dançarinas isto não era preciso, pois o que deve existir é devoção dentro de cada pessoa.